quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Dia 21. 3 anos.

Estava doentinha e a minha avó ficava comigo em casa a brincar o dia inteiro junto à janela do meu quarto às amigas que falam inglês! Eu sei que não sabia inglês e inventava frases, mas ela dizia que entendia e eu ficava feliz porque acreditava! Nunca se fartava de me fazer pantalonas (meias para dormir) e gorros e cachecóis e luvinhas para o inverno...e não era só para mim ou para o meu irmão, era também para as minhas bonecas não terem frio!!! Lembro-me do arroz de bacalhau que me fazia (só comia aquele prato de bacalhau que ela fazia) e da salada russa com a maionese caseira que era a MELHOR do mundo (juro). Cada vez que havia laranjas, lá me fazia o belo do suminho de laranja natural... e muitas vezes fazia-me uma sobremesa que se chamava "creme eléctrico"! Jogávamos imensas vezes ao dominó entre tantos outros jogos e a paciência daquela mulher nunca se esgotava. Lembro-me de ela me pedir desculpa por já não ter força para ir jogar à bola comigo ou andar de bicicleta e eu não entendia porquê, porque adorava toda a energia que me dava e não queria mais! Houve uma altura que ouvi as minhas tias e a minha mãe na brincadeira a falarem de um namorado e eu acreditei que a minha avó tinha um namorado!!! São exemplos daquilo que se mantém na minha memória, da minha infância. Era eu... e a minha avó! Fui crescendo com ela... e nunca me falhou! Era uma verdadeira senhora! Sempre bem vestida, de saltos, alta, muito elegante, com uma postura inigualável, sempre arranjadinha (ia todas as semanas ao cabeleireiro)... e melhor, mesmo com estas características tão próprias de uma avó "titi", era uma senhora simples e mesmo com aquela atitude de vovó querida! Chamávamos-lhe avó Kika, porque o meu querido irmão assim decidiu chamá-la quando mal sabia falar...e ficou... a minha avó Kika! Quando entendi que a ia perder, olhei-a nos olhos e disse que gostava muito dela, e reparei que tinha um traço azul à volta dos olhos...não me esqueço! Ainda viu o meu primeiro textinho editado na escola e ficou super orgulhosa... Quando já não tinha forças, na recta final, dava-lhe o lanchinho todos os dias e ficava horas ao pé dela, todas as tardes! Tenho tantas saudades... E amanhã, dia 21, faz 3 anos que a perdi... Então eu queria deixar aqui, no meu cantinho, a presença dela na minha vida. Porque todos os dias vivo com ela na minha memória, com a saudade e com a vontade de a reencontrar num outro qualquer lugar. E hoje, dedico-lhe este espaço. É mais um bocadinho de mim... um adeus à janela, como sempre, a tua despedida; este é o meu até já, nesta janela.
com esta saudade constante, com esta lágrima de quem te lembra, a tua neta, Pxeu.

2 comentários:

  1. apesar de tudo e apesar de não me poder rever muito bem nessas palavras, sinto parte dessa dor, ou melhor mágoa, não tanto por ter perdido alguém que amo mas por ter perdido alguém que nunca tive a oportunidade de amar por isso, de certo modo identifico-me com este texto que publicaste.

    (Saudades avô...)

    Continua, tens um blog fixe.

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  2. Se tu, que comentaste, vires esta mensagem,
    passo-te a minha vivência como quem também não teve um avô, um avô que também nunca conheci. mas, como (aposto que) tu , amo-o de uma forma incondicional que vai para além da vida, é-me um exemplo e guia-me pela crença de num futuro "incondicional", chegar à presença dele.

    vive como a "pxeu" viveu a avó, com as pessoas que estão hoje no teu presente.
    a avó esteve aqui, no mundo da pxeu, e partiu numa hora bastante mais cedo... e os teus da tua vida? a que hora vão partir? vive esses teus. olha-os nos olhos.

    quanto ao teu avô,
    também eu tenho saudades do meu, o meu herói que eu nunca conheci, entre lados opostos da vida.
    mas...
    lembra-te:
    um alguém só morre quando é esquecido no mundo dos vivos.
    e se tu o preservas no teu valor interior, então ele está vivo, contigo.

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