Estava doentinha e a minha avó ficava comigo em casa a brincar o dia inteiro junto à janela do meu quarto às amigas que falam inglês! Eu sei que não sabia inglês e inventava frases, mas ela dizia que entendia e eu ficava feliz porque acreditava!
Nunca se fartava de me fazer pantalonas (meias para dormir) e gorros e cachecóis e luvinhas para o inverno...e não era só para mim ou para o meu irmão, era também para as minhas bonecas não terem frio!!!
Lembro-me do arroz de bacalhau que me fazia (só comia aquele prato de bacalhau que ela fazia) e da salada russa com a maionese caseira que era a MELHOR do mundo (juro).
Cada vez que havia laranjas, lá me fazia o belo do suminho de laranja natural...
e muitas vezes fazia-me uma sobremesa que se chamava "creme eléctrico"!
Jogávamos imensas vezes ao dominó entre tantos outros jogos e a paciência daquela mulher nunca se esgotava.
Lembro-me de ela me pedir desculpa por já não ter força para ir jogar à bola comigo ou andar de bicicleta e eu não entendia porquê, porque adorava toda a energia que me dava e não queria mais!
Houve uma altura que ouvi as minhas tias e a minha mãe na brincadeira a falarem de um namorado e eu acreditei que a minha avó tinha um namorado!!!
São exemplos daquilo que se mantém na minha memória, da minha infância. Era eu... e a minha avó!
Fui crescendo com ela... e nunca me falhou!
Era uma verdadeira senhora! Sempre bem vestida, de saltos, alta, muito elegante, com uma postura inigualável, sempre arranjadinha (ia todas as semanas ao cabeleireiro)... e melhor, mesmo com estas características tão próprias de uma avó "titi", era uma senhora simples e mesmo com aquela atitude de vovó querida!
Chamávamos-lhe avó Kika, porque o meu querido irmão assim decidiu chamá-la quando mal sabia falar...e ficou... a minha avó Kika!
Quando entendi que a ia perder, olhei-a nos olhos e disse que gostava muito dela, e reparei que tinha um traço azul à volta dos olhos...não me esqueço!
Ainda viu o meu primeiro textinho editado na escola e ficou super orgulhosa...
Quando já não tinha forças, na recta final, dava-lhe o lanchinho todos os dias e ficava horas ao pé dela, todas as tardes!
Tenho tantas saudades...
E amanhã, dia 21, faz 3 anos que a perdi...
Então eu queria deixar aqui, no meu cantinho, a presença dela na minha vida. Porque todos os dias vivo com ela na minha memória, com a saudade e com a vontade de a reencontrar num outro qualquer lugar.
E hoje, dedico-lhe este espaço.
É mais um bocadinho de mim...
um adeus à janela, como sempre, a tua despedida; este é o meu até já, nesta janela.
com esta saudade constante,
com esta lágrima de quem te lembra,
a tua neta, Pxeu.